sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sincronicidade Ou Acaso


Sincronicidade Ou Acaso

Sincronicidade - Modelo: Pam - Arte Digital: Henrique Vieira Filho


Sincronicidade ou coincidência significativa é um termo que foi definido por Carl Gustav Jung (1875-1961), para explicar acontecimentos que parecem relacionados, mas sobre os quais não há prova suficiente para incluí-los numa relação de causa.
O efeito da conexão reside no igual significado de acontecimentos paralelos. Jung nos narra duas de suas coincidências significativas:
No casamento de uma amiga da sua mulher, e enquanto conversava com um senhor, imagina a história de um caso revestido de múltiplos pormenores. Instala-se então um silêncio anunciador de inconveniências. Depois é censurado por alguém:- “Como se atreveu a cometer tal indiscrição?” - Indiscrição?- Com certeza, essa história que acaba de contar!- “As inventei-a na totalidade...”, eJung conclui: “com grande assombro da minha parte, soube que tinha contado a história do meu interlocutor em todos os seus pormenores e, além disso, descobri no mesmo instante que deixara de ser capaz de me lembrar de uma simples palavra da minha narrativa; até hoje nunca consegui recordá-la”.
Jung teve um segundo encontro mágico. Tendo ido visitar uma amiga da sua mãe, entrou na casa e viu uma moça de quatorze anos que usava tranças: Emma Rauschenbach: “Pensei então: eis a minha mulher. Senti-me profundamente perturbado: vira-a apenas durante um breve instante, mas tive logo a certeza de que ela viria a tornar-se minha mulher”. Em 1903, consuma-se este fato, que é interpretado por Jung como um “sim” ao mundo de sua parte, o triunfo da sua personalidade número um e o eclipse da sua personalidade número dois, durante um longo período. ¹
Segundo o historiador James Webb(2002)Jung publicou suas exposição sobre a sincronicidade em 1952, baseando a argumentação em material derivado da astrologia. Usou um lote de 180 horóscopos de casais reunidos alguns anos antes para fins astrológicos. Jung sabia que as tentativas dos astrólogos de apresentar prova estatística significativa de seus(deles) métodos não fora bem sucedida, mas admitia que era simplesmente concebível que a astrologia se apoiasse numa base causal. Mas convencera-se,com seu estudo dos horóscopos, de que havia uma ligação definitiva entre as tradicionais correlações astrológicas e a vida de seus pacientes. As chances contra isso eram imensas: como escreveu Jung: “Pegam-se caixas de fósforos, põem-se 1.000 formigas pretas na primeira, 10.000 na segunda, e 50 na terceira, junto com uma branca em cada uma, fecham-se as caixas e faz-se um furo em cada uma delas que só deixe passar uma formiga de cada vez. A primeira formiga a sair das caixas é sempre a branca”.
Para explicar esse admirável resultado, Jung desenvolveu a ideia da sincronicidade, da qual encontrara vestígios nos escritores mágicos e esotéricos. A sincronicidade poderia estender seu funcionamento ao mundo interior do homem. “O mesmo significado (transcendental) pode manifestar-se espontânea e simultaneamente na psiquê humana e na disposição de um acontecimento externo e independente”. ²
Para o historiador M.-L. von Franz(1977), os conceitos de Jung eram simples instrumentos ou hipóteses heurísticas destinados a facilitar a exploração da vasta e nova área da realidade a que tivemos acesso com a descoberta do inconsciente-descoberta que não só alargou nossa visão geral do mundo mas, nas verdade, a duplicou. Devemos sempre, agora, indagar se um fenômeno mental é consciente ou inconsciente e, também, se um fenômeno exterior “real” é percebido através de meios conscientes ou inconscientes.
O conceito de sincronicidade pode nos ser útil pois esclarece a ocorrência de certos “fenômenos-limites” ou acontecimentos excepcionais; explica-nos, assim, como adaptações e mutações “significativas” podem ocorrer. Hoje em dia conhecemos muitos casos em que acontecimentos significativos “acidentais” foram produzidos graças à ativação de um arquétipo. Por exemplo, a história da ciência comporta inúmeros casos de invenção ou descoberta simultâneos. Um dos mais famosos diz respeito ao naturalista britânico Charles Robert Darwin(1809-1882) e sua teoria da origem das espécies. Ele expusera a teoria em um longo ensaio e, em 1844, cuidava de desenvolvê-la em um volumoso tratado. Enquanto trabalhava neste projeto recebeu um manuscrito de um jovem biólogo britânicoAlfred Russel Wallace(1823-1913), a quem não conhecia. O manuscrito era uma exposição mais sucinta, porém idêntica à de Darwin. Naquela ocasião Wallace estava nas Ilhas Molucas, no arquipélago da Malásia. Conhecia Darwin como naturalista, mas não tinha a menor ideia do gênero de trabalho teórico em que ele se ocupava no momento. 4
Coincidências acontecem em toda parte e podem conectar as pessoas. O modo causal que explica como essa conexão ocorre tem sido o principal desafio de estudiosos. Para o matemático suíçoJakob I Bernoulli(1654-1705), coisas estão sempre acontecendo, mesmo as coisas estranhas-Lei dos Grandes Números. Para o cientista, físico e matemático inglês Sir Isaac Newton(1643-1727),se um objeto atrai um segundo objeto, este segundo também pode atrair o primeiro com a mesma força-Lei da Dinâmica.
O historiador Christopher McIntosh(2002) afirma que para Jung a causalidade é uma verdade meramente estatística e não absoluta, é uma espécie de hipótese de trabalho sobre como os acontecimentos evoluem a partir dos outros, enquanto a sincronicidade toma a coincidência dos acontecimentos no espaço e tempo como significando algo mais que mero acaso, ou seja uma peculiar interdependência dos acontecimentos objetivos entre si e também com os estados subjetivos(psíquicos) do observador ou observadores.³
Em outro giro, o que se diz do acaso? Segundo o Dicionário Aurélio, o acaso é o “conjunto de causas imprevisíveis e independentes entre si, que não se prendem a um encadeamento lógico ou racional, e que determinam um acontecimento qualquer”.
Jung afirma haver diferença entre a sincronicidade e o acaso, pois estar em sincronicidade não significa uma conexão somente com aleatoridade circunstanciais, mas sim através de eventos ou relações significativas.
No registro emocional a importância de expressar o acaso não está só em “botá-lo para fora”, mas mostrá-lo a alguém. Quando desafogamos o peito, os sentimentos não saem para o vazio. É de grande ajuda ter alguém (ou uma parte do próprio eu) que dê atenção ao estado emocional da pessoa e contribua para superá-lo.


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